sexta-feira, 1 de julho de 2011

O que é ser mulher?

Acho estranho se referirem a determinadas pessoas do sexo feminino como ''mulher'', pois para mim, na maioria das vezes, não passam de ''meninas''. Tem vezes que perco horas tentando achar a diferença entre o ser mulher e o ser menina.
Sempre lembro de um trecho do conto ''Simplicidade'', do Fábio de Melo, no qual diz o seguinte: 

''Dizem que sou detalhista. Não sei se sou. Se acreditar que cuidar das miudezas é um jeito de construir a totalidade, então eu sou. Mas uma coisa é certa: mulher tem de usar brincos. O movimento do ''não'' sem o barulho delicado de pequenos penduricalhos parece não ter autoridade. ''

Nessas horas chego a conclusão de que a mulher tem o dominio sobre a menina e por isso, é mais do que menina, é mulher. Deve ser por isso que ser mulher é uma coisa tão bonita ! Deixo aqui a simplicidade do conto do Fábio e a simplicidade de todas nós, meninas, que fomos presenteadas com a dádiva de sermos mulheres!

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Afinal, de qual dos meus filhos vocês querem saber?

A promotoria agora está com um projeto no qual intima todos as mães, que não possuem o nome do pai no registro de seus filhos, a comparecerem a Vara da familia para informarem o nome do suposto pai.
Eis que o resultado está sendo uma confusão atrás da outra.
No mês passado uma mulher me chegou chorando, falando que a sua mãe, que era avô da criança, tinha sido até internada no dia em que receberam a bendita carta de intimação, pois havia pensado que nós lhe tomariamos sua filha. Como assim, gente? Como a Vara da Familia vai simplesmente mandar uma carta e retirar a guarda da mãe? Não é bem assim que o sistema funciona. Fica dificil explicar.
Calmamente, como sempre, expliquei-lhe que era somente um modo que tinham encontrado de por o nome dos pais no registro dos filhos. Só. Nada mais.
As conversas sobre esse projeto rolam solta lá no fórum. Na hora do ''bem bom'' ninguem nos chama, mas na hora que realmente fica foda ai sim aclamam a justiça. Se a criança não tem o nome do pai no registro, deixa ela, poxa! Quem tem interesse corre atrás, não é?
Os processos sobre averiguação de paternidade, pensão de alimentos, guarda de menores são a maior parte dos processos que entulham aquela Vara.
Precisamos socorrer aos que estão atrás, que expressam seu ''jus sperniandi'', seu ''direito de espernear'', de reclamar, de lutar por seus direitos. Esses mórbidos que a nada recorrem não devem receber é nada da justiça, isso sim.
Perdemos horas e horas fazendo as Cartas de Intimação, enquanto poderiamos estar movimentando os processos realmente interessantes.
Sem falar que a maioria das ''crianças'' já possuem até mais de quinze anos, se viveram tanto tempo sem saber sobre o pai, que diferença fará agora? Se realmente estas pessoas acreditassem que faria alguma diferença já teriam feito algo bem antes.
Pior do que o desinteresse, porém, é a ignorância! Hoje me chegou uma senhora falando que tinha recebido a carta mas...''afinal, de qual dos meus filhos voces querem saber?'' , fiquei sem jeito, ''Como assim?'' . Ela vai e me explica que tem oito filhos, sim, OITO, e pasmem, nenhum tem o nome do pai no registro. Fiquei horrorisada, sem palavras! Sorte que o Alexandre apareceu, com seu alto senso de humor, e disse para que ela esperasse as outras sete cartas chegarem para que o juiz não perdesse oito audiencias sobre a mesma causa. Não teve jeito, a Vara toda riu quando ela saiu dali.
Gente, como alguém tem oito filhos sem o nome do pai?
Até que pessoas como essa não acordem será impossivel a justiça agir seguindo a sua base, a qual é uma questão de respeito à dignidade humana.

domingo, 26 de junho de 2011

ALÉM DOS PROCESSOS

Ando pensando muito no porquê de cursar Direito, por vezes, chego a conclusão de ser essa minha vocação. Não tendo, portanto, outra melhor opção além dessa.
Sinto-me feliz aprendendo Direito, estudando Direito e, agora, vivendo o Direito.
Há exatos dois meses comecei a estagiar no fórum, na 1° Vara da Familia, e é ai que estou presenciando a relação do Direito com a sociedade.
Na sala de aula é muito bom ouvir, nos livros é muito bom ler, mas na realidade é muito dificil entender.
Averiguação de paternidade, retificação de paternidade, divórcio, permissão judicial para casamento de menores, prisão por pensão alimenticia, cartas e mais cartas de intimação.
Pessoas simples, desinformadas, ignorantes sobre seus direitos e, mais ainda, sobre seus deveres.
Cansa ouvir e, digo mais, dói ouvir: ''- Não coloco meu nome ai nesse papel sem o exame de DNA'' , concordo, ''Tudo bem senhor, são trezento reais. Assine aqui, caso queira fazer.''. Indignaçao do requerente, ''- O que? Trezento reais?'' . Penso, ninguém mandou fazer filho com várias! Agora quem sofre é a criança, sem nome do pai ali no registro. Nessas horas sinto raiva, indignaçao, desprezo. Mas quem sou eu pra julgar tanto assim? Não sou juiz ali naquela Vara, não sou juiz em lugar algum, exceto nos meus paradigmas já tão anacronizados.
Chega uma hora que ler os processos e não sentir mais nada nos faz sentir um tanto frivolos, mas, imagine só, se em cada processo que lermos pensarmos nas vidas existentes por trás deles?
Dias desse, chegou uma senhora, já muito sofrida pelo tempo, pedindo para que eu lhe entregasse seu processo. Calmamente procurei, calmamente lhe entreguei, já consciente de que ela, certamente, não entenderia bulhufas do que estava escrito ali. Timidamente ela me chama e pergunta ''Moça, a senhora poderia me explicar o que é isso aqui?'' . Eu, esforçada estudande de Direito e do Direito, aluna aplicada em sala de aula, porém, uma ignorante na aplicação daquilo de que sei na vida real. Não só olho como também estudo o processo e chego a conclusão de que o pedido da guarda de seu neto lhe foi negado pelo juiz. Ela começa a chorar e me contar que a mãe da criança usa tóxicos, bebe demais, não acompanha a vida escolar do menor, ou seja, não tem condições alguma de ficar com a guarda. Fico sem saber o que dizer, o que fazer. Só me resta aconselhar de que entre com recurso, procure outro advogado. Ela sai, mas fica em mim. Sua história não sai da minha cabeça. Imagino a criança, coitadinha, sofrendo nas mãos de sua mãe e a avó triste pensando na criança.
Entender o processo é fácil, dificil está sendo entender as vidas além dos processos.